Sempre que me é dada a oportunidade de fotografar um país, procuro ir de alma lavada para enfrentar novas experiências. Fico imaginando tudo, desde a chegada, quem vai me receber no aeroporto, a temperatura local, penso na cor do mar (se é que tem mar), na terra, se tem deserto qual é a cor da areia, que tom de verde é a grama; no céu, se vai estar cinza ou céu de brigadeiro - aquele azul limpinho sem nuvens, que os pilotos adoram e os fotógrafos também. Penso na língua que as pessoas vão falar na rua, no estilo das roupas, no tempero das comidas, nas cores das casas, nos tipos de carros, se o asfalto é ruim como o nosso, visualizo, enfim, todos os detalhes.
Mas, fotografar não é só o visual, tenho que absorver boa parte da cultura do país. Cada local tem um cheiro, um som, sem falar no hábito das pessoas. Por falar em som, quem foi a Istambul não tem como esquecer o soar do sino chamando para rezar. São cinco vezes ao dia: por volta das cinco horas da manhã começam as badaladas e todos ouvem, inclusive os não muçulmanos, como eu; tem a reza do início do jejum, depois vem a do meio dia, tem a da tarde, a do pôr do sol e a noturna. Quando estive na Turquia, achei que eu deveria rezar mais.
Bem, chegou o dia da foto! E agora? Já estou com o equipamento lustrado, roupas e botinas adequadas, mas o que eu vou fotografar? Tudo aquilo que eu li, todo o conhecimento que adquiri sobre esse país vou tentar transformar em imagens.
Ratifico o que o fotógrafo Ansel Adams disse: “Não fazemos uma foto apenas com uma câmera; ao ato de fotografar trazemos todos o livros que lemos, os filmes que vimos, a música que ouvimos, as pessoas que amamos”.
A minha felicidade vai a mil nessa hora, e o que eu mais quero é estar com o olhar amoroso. Ai, sim, me entrego ao prazer de escrever com a luz.
Vamos fotografar.
Sylvia Nogueira Cury
Presidente do Clube do Fotógrafo de São José do Rio Preto